Como a mix pode mudar a experiência do ouvinte com a música

Enquanto a obra de Federico Piccirillo, “Filling Spaces”, vai ilustrando esse post, vou explicar para vocês o conceito de mix na produção musical e sua conexão com as imagens. Dando continuidade ao artigo escrito pelo colega Gustavo Souza, desmistificando alguns dos processos de mixagem, resolvi explicar para leigos e nem tão leigos assim, a importância da mix e o que ela faz exatamente.

Para que você consiga entender, você precisará de um fone de ouvido, é indispensável o uso do mesmo para melhor percepção.

Voltando a obra de Federico, o artista imaginou como seria se a música fosse feita de matéria, como ela poderia preencher os espaços de uma sala com sua beleza. Este conceito começou como um estudo sobre a conexão entre luz e espaço. Mas a mix é muito mais que “preencher espaços” de uma sala vazia, por mais que analogia pareça bem prática, a mesma emoção e delicadeza que as ilustrações nos passam, poderia ser considerado o objetivo final da mix.

A mix não só distribui os elementos para que haja uma melhor percepção, mas também está diretamente ligada com a capacidade de fazer o ouvinte sentir a música, em alguns casos é possível fechar os olhos e vê-la como se fosse algo quase palpável. Pode ser mera coincidência, mas a música que fez eu me apaixonar pelo processo de mixagem, pode justamente se conectar ao pé da letra com as primeiras fotos de Frederico, “(No One Knows Me) Like the Piano”, hora de colocar o fone ouvido.

 

Sampha é um artista incrível da atualidade, a sensibilidade que sua música passa, tanto na composição, quanto nos arranjos é inquestionável. Agora como amante do instrumento piano, ao ouvir essa música em particular pela primeira vez no fone de ouvido, me senti como se eu tivesse sentada ao seu lado enquanto o mesmo tocava. Isso porque, se você prestar a atenção, no lado esquerdo do seu fone você ouve claramente a parte mais grave do piano, que é tocada pelo artista com a mão esquerda, já no lado direito do seu fone, a parte aguda do instrumento brilha, tocada pela mão oposta, faz com que você praticamente se sinta o própria pianista.

Ainda pensando em direita-esquerda, facilmente podemos citar a música que mais emocionou as pistas do mundo todo, “Opus” do incomparável Eric Prydz, você pode perceber claramente esse conceito na sua intro. Mas não é só isso, cada elemento individual da música brilha mesmo quando todos são tocados simultaneamente e isso é evidenciado na mix.

Proponho um exercício: Pegue papel e alguns lápis de cor, feche os seus olhos enquanto ouve a música, quando chegar no ápice da música, tente atribuir formas geométricas para cada elemento da música que você consegue perceber, alterando tamanho, posição e intercalando com os outros elementos da forma como você imagina que seria se a música preenchesse a folha.

Em uma entrevista para o The New York Times, não só Skrillex, Diplo e Justin Bieber explicaram muito bem sobre essa busca de elementos e encaixes para despertar a emoção do público, mas também desconstruíram a faixa elemento por elemento, além da sensibilidade da pessoa que editou o vídeo em conseguiu ilustrar perfeitamente os efeitos sonoros. Assista o vídeo e repare, depois compare com o seu desenho.

Sem ir muito longe, temos outros dois exemplos de Skrillex e Diplo. Em “Surrender”, da banda From First to Last de Skrillex, você praticamente pode se sentir no meio da banda, com bateria e voz centralizadas, e os outros instrumentos distribuídos a direita e esquerda, concentre-se na guitarra e veja por si só.

 

LSD, projeto paralelo de Diplo com Sia e Labrinth, além dos elementos, você consegue perceber essa “brincadeira” nos vocais, o vocal principal centralizado e o vocal de apoio de Sia aparecendo mais em um dos lados.

Mas não são só os gringos que conseguem realizar grandes feitos no processo de mixagem, a bateria é uma das partes mais importantes da mixagem, por ter elementos com um som mais grave e dar corpo a música precisa-se balancear bem as frequências para limpar mais essa área e dar espaço para outros elementos na música aparecerem. Um belo exemplo disso é a faixa “Strngr Thngs”, dos brasileiros Iccarus e Ruxell, Iccarus é o responsável por todas as mixagens de suas músicas.

Para finalizar, eu gostaria de dizer que o processo de mixagem vai muito além da produção musical e do seu fone de ouvido (estéreo), por mais que o sistema de som dos clubes e festivais seja mono, ainda assim o trabalho de mixagem na mesa de som e nos equipamentos é de extrema importância e é graças a ele que conseguimos proporcionar experiências como essa, Armin van Buuren tocando sua música “Ping Pong” no Armin Only (e olha os balões aí de novo!).

Espero que tenham curtido o assunto do artigo, a mix é um dos processos que mais curto dentro da produção musical e espero que depois de hoje, você passe a enxergá-la com outros olhos, porque ela pode ser mágica se bem feita.

Até a próxima!