Memórias póstumas da EDM

Está morto, está aposentado, não tem mais espaço no Brasil, vive uma decadência, caminha para o fim. Conviver com a ideia de término foi um hábito que se criou nos últimos anos entre as diversas cenas que compõe a música eletrônica. Um enterro moral que foi se construindo a cada evento em que a EDM não se fazia mais presente, na medida que os festivais foram rareando e dando voz aos sons mais típicos do país, como o Brazilian Bass.

As memórias pós morte de quem ainda agonizava.

Uma heresia que fazia muito sentido, não há como negar. A ascensão de uma nova cultura no país teve uma força inequívoca dentro da música e elevou as cores do Brasil pelo mundo, nas mãos de Alok, de Vintage Culture, por exemplo. A sonoridade se tronou uma identidade nacional que ganhou adeptos, proporções e o espaço que um dia foi do EDM.

Os resquícios desse gênero ficaram com os festivais. O show de Hardwell no Lollapalooza, talvez tenha sido o último de maior relevância. Um fato que muito pode ter relação com a desvalorização da moeda nacional diante do que se utiliza na remuneração dos profissionais que teriam seus trabalhos importados pra cá. Não é fácil, ou barato, ter um DJ em seu clube, sua festa ou seu grande evento.

O finado Tomorrowland é um ótimo e triste exemplo.

Um final de semana que traz a reflexão: enterrou-se alguém que ainda respirava? Ao menos no coração do fã? Provavelmente, sim. A Laroc Club trouxe KSHMR para sua edição de Setembro, sábado, dia 08, como headliner. O renomado expoente do EDM era um pedido dos clientes e amigos do clube. Comoção popular que viabilizou o evento e que foi capaz de repercutir com ótimo público e crítica.

Certamente há um movimento de retorno.

As turnês de Martin Garrix e Vintage Culture pelo país, que acontecem no próximo mês, impõe uma expectativa de grande apelo para estádios lotados, grandes praças, um sucesso definitivo. Por mais que existam posições negativas, a realidade coloca luz sob a potência que ainda existe nesse tipo de evento, de som, de estilo. Nessa morte que nunca ocorreu, de fato.

Um momento que deixa um forte indício, uma evidência, que essa sonoridade tem espaço. Tem muito espaço. Talvez precise de tempo para preparação, mas lota clubes, festas. Ele tem adeptos calados, mas com saudades, pelo país. Gente que sente falta do Big Room, da música que um dia foi hit por aqui.

Tem espaço pra todo mundo, bastar ter carinho com os gostos tão particulares presentes na música eletrônica, afinal, tá todo mundo junto pelo bem do som que amamos ouvir.