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Entrevista com Nicky Romero

Olá você, que chegou aqui vindo de algum lugar da internet. Vou dar uma breve explicação do cenário por trás desta entrevista com Nicky Romero. Nos conhecemos em 2014, ele tinha 24 anos e foi exatamente 2 dias antes do seu aniversário em 6 de janeiro, além de ter sido nossa primeira entrevista. Na época, nós falamos sobre como sua vida tinha mudado desde “Toulouse” e suas performances por todo o mundo, se apresentando em grandes festivais ou nos seus próprios shows, fazendo eventos e lançando músicas com sua label Protocol. Nick estava fazendo tantas coisas, era muito cedo para perceber realmente toda aquela mudança de vida, ele era muito novo também, assim como eu, que olhava para ele perplexa de admiração.

Hoje em dia, 5 anos depois, é seguro dizer que a gente pode sentar, olhar para trás e ter uma conversa honesta sobre tudo que aconteceu desde então. É bom poder olhar para tudo e ter um ponto de vista diferente, mais amplo e sólido sobre as coisas boas e ruins de ser um super DJ. Foi uma conversa longa e profunda, já vou adiantando, mas eu estou muito satisfeita de ter encontrado o novo Nick e poder lembrar do outro Nick do começo do seu auge, fico feliz por ver o artista e a pessoa que ele se tornou, por isso vamos começar logo, porque tem muito assunto!

Olhando a nossa primeira entrevista, vamos repetir alguns dos assuntos que abordamos no passado sob uma nova perspectiva. Para começar, como você descreve as mudanças do seu som e na sua vida comparando as duas performances no Ultra Music Festival, aquela em que citamos em 2013 e a mais recente [2019]?

“Eu diria que em 2013/2014 eu tinha uma mentalidade diferente, naquela época tudo ainda era muito novo, 2013 foi meu primeiro show no main stage do Ultra, 2014 foi o meu segundo, neste ano foi a primeira vez que eu ganhei um espaço onde a pista estava cheia. Naquela época, eu estava muito focado no Progressive House e eu meio que conquistei o meu lugar na indústria com músicas como ‘Legacy‘, ‘I Could Be The One’, ‘Warriors’, ‘Symphonica’, ‘Toulouse’, todas essas eram praticamente as músicas do momento, eu diria, e esse som ainda era muito novo na época. Eu não diria que eu fui o criador, mas eu definitivamente sou um dos artistas que provavelmente ajudaram a difundir esse som. Muitas pessoas me conheciam, vinham até mim por ouvir esse som no Ultra. Agora a cena musical mudou tanto que significa que eu também mudei, eu precisava encontrar uma saída, encontrar equilíbrio entre o Progressive House e o que funciona no Spotify, mas também as músicas do meu set. Provavelmente, tem pessoas novas no Ultra que não estavam lá há 5 anos porque não tinham idade suficiente, então tem toda essa nova cena, essa nova indústria, o que é excitante porque eu posso redefinir meu próprio som e minha própria carreira. Mas é tudo sobre encontrar um novo equilíbrio e descobrir onde eu quero ir em termos de som. Acho que todos os artistas começaram a lidar com isso em algum momento, pessoalmente, eu acho que tenho mais equilíbrio agora, eu sinto que, como eu já vi muito, já passei por momentos muito altos na minha vida e também coisas muito ruins, onde eu não estava me sentindo muito bem, então agora eu acho que acertei o equilíbrio e sei que isso é o que eu posso fazer e aquilo é o que eu não posso fazer, que algumas coisas me afetam mais do que outras e assim eu consigo tornar mais fácil o que eu gosto de fazer, pois não vai me desgastar tanto, tendo mais energia para o que realmente importa, que é fazer música. Naquela época, eu era impactado por tudo, então essa foi a grande mudança eu acho.”

 

Uma vez você postou no seu Instagram sobre o que você estava enfrentando na sua vida, foi uma conversa honesta com os seus fãs onde você explicava os problemas como ansiedade e tudo mais. Depois da morte de Avicii, qual foi a sua reação quando descobriu sobre e se você pensou sobre suas próprias experiências na vida. 

“Essa é uma pergunta bem profunda. Mas, para dar a resposta mais honesta, tento ser o mais honesto possível e o mais aberto possível com os meus fãs, porque eu sinto que eles merecem a verdade, eles não merecem uma realidade de Instagram, eles precisam ter a verdadeira realidade, e a realidade é que nem tudo que acontece nas mídias sociais é real, a maioria é montada e só mostra o melhor lado de si, mas não podemos ser a versão perfeita de nós mesmos o tempo todo, todos nós passamos por altos e baixos, eu senti que precisava compartilhar aquilo depois de ter que cancelar alguns shows por causa do meu estado mental, eu simplesmente não conseguia sair em tour, eu queria dar às pessoas a versão honesta do que estava acontecendo na minha vida, qual era a razão pela qual eu não podia sair. Eu falei muito com Avicii no Whats App ou no telefone ou na vida real sobre as coisas que ele estava enfrentando, sentimentos que ele tinha e eu sei que ele estava lidando com muita ansiedade, por assim chamar, assim como eu. Agora não tanto, algumas vezes ainda está lá, mas no passado foi muito mais e eventualmente eu penso que Avicii foi um produtor tão talentoso, mas ele não era o tipo de cara que estava realmente confortável diante de uma grande audiência, ele era uma pessoa muito tímida. Eu diria que sou mais adaptado a grandes multidões, tudo bem por mim, mas eu tenho que cuidar de outras coisas, para mim há um grande impacto quando há muita gente ao mesmo tempo tentando me tocar e tirar fotos, em holandês nós temos uma palavra para isso, nós chamamos de “prikkels”, que significa coisas que te tocam, então eu tenho que manter um nível de equilíbrio para mim, assim como Avicii. Mas eu não sabia sobre seu último estado, ele estava realmente no seu mundo, eu queria que ele tivesse me contado mais sobre como ele se sentia, porque você sabe, ninguém merece algo como o que aconteceu com ele. Mesmo quando eu me senti realmente ruim, eu não diria que eu estava tão perto quanto ele.”

É importante falar sobre isso, muitos produtores e DJs reclamam sobre o quanto estar em turnê pode ser desgastante, muitas vezes DJs chegam a fazer 3 shows no mesmo dia, precisam viajar de país para país e tudo isso é difícil para o corpo e para a mente. Você acha que abordar esse tema na cena poderia prevenir acontecimentos com esse [Avicii]? 

“A primeira coisa que temos que fazer, é que todos nós precisamos criar coragem e dizer, é assim que nos sentimos, não é normal, não é humano ter uma vida como essa como base diária, mesmo que seja ótima. Mas muitas pessoas em meu próprio ambiente pensam que você tem a melhor vida, tem palcos, bebe, tem bons carros, tem casas bonitas, sempre tem garotas ao redor, sabe? É assim que eles veem, e é difícil explicar para essas pessoas… Olha, esse trabalho é muito duro, é quase a vida de um atleta, você tem que estar em forma o tempo todo, você tem que comer bem, eu não bebo no geral para si ter ideia, você precisa manter o nível, cuidar da saúde, a fim de se manter nesta indústria. Tem tanta coisa acontecendo, eu acho que é importante que todos nós, não só eu, mas todos nesta indústria e não apenas nesta indústria mas também na cinematográfica, nos esportes, eles precisam ser honestos sobre como se sentem, para que possam educar outras pessoas, principalmente num mundo onde as mídias sociais dominam, todo mundo gosta de compartilhar sua versão perfeita no Instagram, no Facebook, no Twitter, no Snapchat, mas na maioria das vezes, por trás de cada foto, há uma história, sabe? E essa história, eu sinto que devemos tentar colocar um pouco mais à luz do dia, e mostrar a eles qual é a realidade. Eu concordo, é isso que eu faço e é sobre isso que eu falo.”

Falando sobre turnê. Eu gostaria de ouvir de você um aspecto positivo e um negativo sobre como estar em turnê constantemente mudou a sua vida.

“O lado positivo, vamos começar por aí, é que eu posso visitar muitos lugares incríveis. Eu estive em quase todos os pequenos e grandes lugares no mundo que eu gostaria de ir quando criança, ainda tenho muito que descobrir porque esse mundo é tão grande que eu não tive a chance de descobrir cada país que existe, mas eu definitivamente estive nos lugares mais famosos da maioria dos países. Eu tive sorte de ver tudo isso, muitas pessoas nem chegarão a ver isso. Agora eu estou em Miami e amigos meus ou minha família vão dizer, Ah você está em Miami, eu gostaria tanto de conhecer Miami e eu estou tipo ‘Ah Miami, eu viajei para Miami nos últimos 10 anos pelo menos 5 vezes por ano’, para mim é como se eu tivesse viajando para a   cidade onde meu avô e minha avó moram, 5 minutos de distância, então isso se tornou algo normal para mim, o que é algo negativo porque eu fiquei tão acostumado a essa vida que ás vezes eu esqueço de ver o valor de estar viajando e também o fato de eu não poder ver minha família e amigos o tanto quanto eu gostaria, esse seria outro aspecto negativo. Viajar em turnê é vantajoso, porém isso acaba se tornando algo normal, como tudo na vida, se você viajar por um ano todos os dias da sua vida isso se tornará algo normal.”

Você está preparando uma turnê mundial, certo?
“Sim, a Redefine Tour.”
Você planeja ir ao Brasil? Você espera que aconteça, pode nos falar algo sobre? 
“Não, eu quero dizer, eu acho que vamos para o Brasil, eu apenas tenho que checar quando, onde e como. Na noite passada eu postei uma imagem no meu Instagram, não sei se você viu, mencionava o Green Valley. Eu conversei com os promoters do Green Valley e nós estamos tentando uma data lá o mais rápido possível, já que é um dos meus clubes favoritos no mundo para tocar, mas nós vamos quase sempre para o Brasil, então provavelmente vamos voltar com essa turnê.”

Você tem algo em especial planejado para essa turnê? Algo que seja especial para você ou para os seus fãs? O que você está preparando?

“Provavelmente terão alguns artistas convidados durante o ano para que as pessoas os vejam performando ao vivo, como eu fiz no ano passado no Ultra com Roses e Taio Cruz. Além disso, eu gostaria de ter aquele elemento ao vivo acontecendo mais no meu set até o ponto em que eu realmente toque piano e bateria durante o show. Eu não tenho certeza até onde nós chegaremos esse ano com essa ideia, mas isso é definitivamente algo que eu estou tentando alcançar nos meus sets para os próximos anos.”

 

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Sobre produção musical, você lançou um pack no Splice e gostaríamos de saber qual o seu plugin favorito para trabalhar nas suas próprias músicas.

“Essa é fácil, é o Kickstart e o plugin se chama kick,  próximo ao fato de termos lançado o sample pack no Splice, nós colocamos bastante tempo e esforço em criar plugins e temos parceiros incríveis executando, o maior exemplo é o Kickstart, é um plugin que cria aquele som pulsante na sua produção e vários produtores estão usando, eu vi mês passado que o Timbaland estava usando em sua Masterclass, várias bandas usam, vários artistas, DJs, produtores, os caras do hip hop, esse é um dos plugins de mais sucesso que eu já trabalhei. Eu gosto de me dedicar pesado ao processo de produção musical, por isso fizemos o sample pack do Splice, para ajudar as pessoas lá fora a editarem suas músicas, a colocarem side chain, isso é algo muito importante na minha vida, educar a nova geração e ajudar os produtores nas tarefas mais básicas. Já que você está estudando produção musical, a pergunta real é quando você vai lançar uma música pela Protocol Recordings? Eu acho que esta é a pergunta que devemos fazer.”

(Risos) Sem pressão, eu acabei de começar a faculdade, precisamos esperar um pouco mais, mas eu prometo que você será um dos primeiros a ouvir algo de mim. 

Sobre sua música, especificamente, seu som realmente mudou, como você mesmo disse você começou com o Progressive House. Como você define o caminho que você está tentando seguir com a sua música? Você tem alguma meta que você está tentando atingir ou está apenas testando novas coisas? 

“Bem, atualmente eu estou tentando encontrar o caminho entre o meu som e o que toca na radio e no Spotify. Eu acredito estar bem solidificado na música de clube, eu sei o que eu faço e o que tenho que fazer, mas eu estou tentando trazer novos elementos, mesclar sonoridades do Future House e do Future Bass no meu novo som para ter uma nova visão do Progressive House, mas é no Progressive House que meu coração está. Ao mesmo tempo, eu estou tentando desenvolver um som que funcione mais no Spotify e nas rádios e isso é algo que eu estou tentando equilibrar. Eu acho que neste momento, com a minha música em parceria com Dallask e XYLØ eu consegui alcançar isso, foi uma das primeiras música que eu sinto um pouco de Nicky Romero, mas ainda assim é boa para ser tocada no Spotify porque é em 122bpm, o que ainda é bem rápido, para sua referência, eu toco normalmente entre 126, 128bpm. Eu descobri que eu preciso me manter mais perto do que eu toco nos clubes para as pessoas entenderem que é uma música minha, isso foi algo que aprendi no ano passado.”

Algo mais que você gostaria de adicionar? Algo que você esteja planejando para o ano que vem ou para agora? 

“Você trouxe pão de queijo?”

OMG! Eu não trouxe, eu deveria, né? Na próxima vez eu vou trazer, prometo.

Na próxima, tanto faz se vamos fazer uma nova entrevista ou apenas nos esbarrarmos por aí, por favor não esqueça de trazer os pães de queijo, por favor.

Combinado!

Nicky Romero está confirmado na Laroc em São Paulo no dia 01 de Junho, anota aí!