Do IGTV ao Spotify: O mundo se rendeu ao streaming

Muitos são os admiradores da lendária loja de discos de Berlim criada por Mark Ernestus no mesmo ano da queda do muro que dividia a Alemanha ocidental da oriental, a Hard Wax. Não é pra menos, a experiência de ir até a loja de discos de vinil em um domingo (dia em que chegavam os últimos lançamentos) e ouvir um de seus funcionários tocando disco por disco enquanto o público prestava atenção cuidadosamente em cada faixa do disco para no momento certo levantar a sua mão implorando para obter uma das poucas cópias que eram disponibilizadas, é singular.

Conhecida como celeiro de DJs da cena eletrônica, a Hard Wax além de tudo era muito bem frequentada. Imagine a surpresa de se deparar com uma personalidade da cena como Frankie Knuckles enfrentando o mesmo local que você. Mark descreveu esse fabuloso episódio narrando a cena em que todos ouviam atentamente os novos discos e olhavam o mestre ansiando qualquer sinal de aprovação, nem preciso dizer que quando isso acontecia, era uma confusão de mãos eufóricas lutando para conseguir um exemplar do disco em questão, o episódio foi descrito na série Minha Loja de Discos do Canal Bis.

O mesmo aconteceu com a televisão, assistir TV era quase que um ritual, a família toda se reunia no sofá, todos faziam silêncio e esperavam pelo início da programação. Mas os tempos mudaram, hoje os adolescentes estão assistindo -40% a TV que assistiam 5 anos atrás, já no Instagram as pessoas estão assistindo +60% vídeos do que assistiam no ano passado. Adolescentes podem estar assistindo menos TV, mas eles estão definitivamente assistindo mais criadores de conteúdo na internet.

Confesso que há quatro anos, quando entrei no mundo das plataformas de streaming pago, na época com o Deezer, não imaginava que em um curto espaço de tempo toda a indústria musical se renderia a mais esse avanço tecnológico. Dos discos de vinil aos álbuns digitais, da TV ao YouTube e agora com o IGTV, que defende a ideia de que o YouTube está ultrapassado pelo simples fato de termos que virar a tela dos nossos celulares para consumir conteúdo em vídeo, isso não é pensar no mobile.

A evolução da internet caminha lado a lado com a popularização do streaming, que existe desde a década de 90 e só levou o tempo que levou para chegar nesse patamar por conta da baixa velocidade das conexões com a web, que não permitia o carregamento instantâneo. O acesso a uma biblioteca musical monstruosa na palma da nossa mão abriu horizontes e oportunidades, se de um lado os artistas independentes ganharam espaço entre gigantes da indústria fonográfica, do outro o público em massa pôde ter acesso ao que antes era restrito e exclusivo a uma minoria. Alguém aí tem alguma dúvida de que a proposta do Instagram vai pegar? O simples fato de ter uma plataforma que surge com o tema mobile first já tem aí uma probabilidade de alcançar a maioria dos usuários da internet, já que hoje quase 90% do tráfego da maioria dos sites é feito via mobile.

A beleza e exclusividade da Hard Wax e dos discos de vinil ainda está lá em Berlim e sempre será valorizada por toda sua história cultural, mas a evolução e oportunidade de ampliar o acesso a gigante biblioteca musical não pode ser ignorado ou menosprezado. O que antes era considerado pirataria, quem aí nunca gravou um CD com várias músicas para um amigo? Hoje com o Spotify, líder global em streaming musical pago, rapidamente se tornou um nome familiar na indústria da música/tecnologia com o seu serviço barato, facilidade de uso, e sua enorme biblioteca, além de compensar artistas por plays através de royalties. E não se espante se eu disser a você que essa tem sido a maior fonte de renda de artistas com música hoje, engana-se quem pensa que o Beatport ainda é relevante nesse aspecto.

Já está mais do que comprovado que o mundo se rendeu ao streaming, desde que os charts como Billboard e iTunes passaram a contabilizar os números em streaming, a corrida em busca de ouvintes se tornou ainda mais acirrada entre gigantes do meio, como a Apple Music e o Tidal, esse último criado por Jay Z (Roc Nation) que com artistas como Beyoncé, Rihanna e Calvin Harris, conseguiu lançar álbuns e videoclipes com exclusividade pela plataforma além de transmitir shows e festivais ao vivo e sem aqueles anúncios chatos, deixando seus concorrentes sem escolha e tirando uma fatia significativa do mercado.

Enquanto isso, a Apple Music além de contar com a força do iTunes, lançou uma espécie de rádio online com uma programação exclusiva de peso com artistas como Elton John, Skrillex e Drake, reinventando inclusive a maneira que consumimos o rádio, um dos primeiros meios de comunicação da história.

A única coisa que me preocupa em relação ao IGTV e que o YouTube está mais bem posicionado se comparado, é a monetização dos vídeos dos criadores de conteúdo e músicos. O YouTube se tornou o canal para os videoclipes e o IGTV já está mostrando o seu potencial em relação a isso por conta dos vídeos de maior duração. Com certeza ainda teremos discussões sobre o assunto, assim como muitos artistas já foram contra as plataformas de streaming e brigaram pela remuneração que era tida como indevida, espero que os creators se juntem a causa, porque no sentido da nova plataforma gerar receita para o Instagram com anúncios pagos, isso você pode ter certeza que vai ocorrer mais cedo ou mais tarde, por isso aproveite enquanto a plataforma é totalmente orgânica.

Falando em remuneração indevida, mesmo o YouTube ainda está brigando com a indústria fonográfica e os creators quando o assunto é monetização, que segundo os mesmos ainda não é justa.

A pauta rende assunto para longas discussões, enquanto esperamos uma atualização do cenário, vamos acompanhando essa evolução da era do streaming digital.