Avicii: A mais dolorida das lembranças

Isso tudo ainda mexe demais comigo, com as coisas que eu mais amei na vida, com o que eu me tornei. Te ouvi para curar as dores da vida que eu mal entendia, te ouvi para celebrar as conquistas que pareciam tão grandes. Meu primeiro desamor, a bad foi com teu som no fone de ouvido velho, sem graça. Significa demais quando mexe com o que temos de mais precioso, com o nosso dia a dia.

Não vai sair tão cedo da minha memória afetiva, tampouco, do coração, que meus domingos de pôr do sol eram com “I Could Be The One” porque eu era um desses que viraram estatística da modernidade. A impopularidade na escola que vinha às segundas feiras chegavam em alguém que se recarregava com música. Que deixava pra trás aquilo que mais tarde viraria crime. Importa pra mim. Eu sabia que poderia ser aquele que eu ouvia.

Resolvi escrever essa homenagem em oração enquanto ouço “Silhouettes”, a primeira dose de Avicii que tornou melhor a minha vida. Pouco contato com a música eletrônica, vindo de uma família em que outro gênero prevalece, um caipira que encontrou o caminho por esse que foi uma alma sábia num corpo tão jovem quanto o meu.

Ficaria horas com a emoção nas palavras para que fosse viável listar todas os acordes que Tim assinou e que foram trilha sonora de um momento importante na minha história. Aos meus amigos, não sugeri tatuarmos “Hey, Brother” à toa. Sabemos que o sangue, muitas vezes, se une em um drop que emociona.

Você não desaparecerá jamais na escuridão porque fez brilhar o olhar de incontáveis eu’s que existem por aí. Sejam “The Days” ou “The Nights”, mas o legado Avicii segue nos deixando, me perdoem o trocadilho, “Feeling Good”. O meu player agora toca “Levels”, que fui tardiamente conhecer e colocar como a música que abriria a minha formatura. Não há como esquecer.

Pedi aos céus, quando li sobre o que acontecera, em tributo, que eu acordasse quando tudo estivesse melhor. Óbvio que não melhorou, mas a música é a arte que melhor sabe lidar com a falta porque faz dela o motivo pra festejar. Esse ano, meu evento preferido fez das preces a celebração incontida e insistente de Tim.

A bandeira que viralizou, a homenagem do próprio Tomorrowland, todos os DJ’s dedicando um minuto de seus sets para lembrar uma música, todos se emocionando ao lembrar as influências que ficaram. Me senti comum diante de tudo, não mais o alguém que sentia a ausência por motivos particulares. Avicii foi maior. Foi a saudade de um mundo inteiro.

Foi o Tomorrowland 2018. Lá do céu!