ARTE, PERFORMANCE E CULTURA: Como surgiram os DJs ‘TURNTABLIST’

A cultura “turntablist” e a arte da discotecagem são praticamente inseparáveis, não dá para se falar de uma sem citar a outra, mas para entrarmos no assunto, é preciso entender a sua origem, desde muito antes do início dos gêneros, na invenção que tornou possível o surgimento de tecnologias necessárias para esse tipo de performance.

Há muito tempo, entre as 2.332 invenções registradas e patenteadas por Thomas Edison, uma das mais importantes foi sem dúvidas o Fonógrafo. Inventado em 1877, o aparelho era capaz de gravar e reproduzir sons, agora você imagina o que isto significava naquela época. Milhares de músicos foram beneficiados, além de finalmente ser o pontapé inicial para a industria fonográfica surgir e se tornar o que é hoje.

Thomas podia não fazer ideia e infelizmente acabou morrendo sem ver de perto, mas seu produto após muitos anos evoluiu bastante, foram mais de 50 invenções baseadas no seu protótipo inicial, por diversas empresas e gênios, até que chegamos finalmente na década de 40, mais precisamente na segunda guerra mundial. Por causa dos altos custos para enviar uma banda, as tropas recebiam as visitas de DJs, a ideia em resumo era alegrar os soldados. Isso fez com que os elevados preços dos toca discos acabassem caindo, pois a guerra movia o mundo e se os soldados queriam se divertir, todos por consequência também o faziam.

Com os valores lá em baixo, os toca discos surgiram no mundo das ruas, diversos DJs tornavam o dia a dia da galera mais animado e entre eles acabou surgindo um em especial. DJ Kool Herc (na foto acima e abaixo) reproduzia discos de funk music quando organizava block parties (em outras palavras: festa do bloco, festa fechada, etc) no bairro do Bronx em Nova Iorque. Kool resolveu inovar, com seus dois toca discos e um amplificador de guitarra, entre uma música de James Brown e outra ele começou a isolar a parte instrumental das faixas, mudando rapidamente entre um break e outro. Isso acabou gerando a base das músicas de hip hop, por tal feito ele é considerado o fundador e pai do gênero.

Com essa base criada, a partir da década de 70 e 80 os DJs já eram figuras carimbadas nas festas de bairros e logo começaram as competições – amigáveis – entre eles. Simmmmm!!!! Finalmente aqui chegamos no ponto inicial do artigo, os DJs “TURNTABLIST”, conhecidos também como os malabaristas musicais. Quem são eles? Basicamente, após dominar a mixagem tradicional, um DJ que pratica turntablism fica especialista em “manobras sonoras radicais”. Entre as técnicas de mixagens mais conhecidas desta modalidade, podemos destacar: scratch, backspin, back to back e transform.

As competições profissionais e mundiais vieram em seguida, mais precisamente em 1985 tivemos o primeiro campeonato de DJs com forte expressão mundial, era o DMC World DJ Champions. O número um a vencer foi Roger Johnson da Inglaterra, depois tivemos a vitória de famosos DJs como, por exemplo, DJ Cheese (1986), Rocksteady DJs (1992, 1993), DJ Noize (1996), A-Trak (1997), o tri-campeão Craze (1998, 1999, 2000), até chegar hoje no atual bi-campeão DJ Fly (2008, 2013). É importante lembrar, também que a partir de 1999 em diante o campeonato ganhou novas modalidades como a de grupo, vários DJs ao mesmo tempo, etc. OK, OK, OK!!! Enfim, vamos logo ver como funciona isso? Se liga no vídeo do A-Trak vencendo em 1997, ainda garoto.

Até então essa técnica de discotecar era apenas criada a partir dos discos e mixer, porém, com o surgimento das novas tecnologias e funcionalidades nos equipamentos, essas apresentações foram enriquecendo cada vez mais e a perfomance ficando muito mais completa com, por exemplo, hot-cue, loops, samples e filtros. Separei um vídeo aqui do lendário CRAZE usando uma TRAKTOR SCRATCH PRO e uma KONTROL X1 pra você ter noção de como isso funciona hoje em dia.

Aqui no Brasil não preciso nem citar o eterno DJ MARKY, tocando drum ‘n’ bass, esse vocês já imaginam que é referência. Mas, não posso deixar de lembrar de importantes caras como DJ Nedu Lopes, tri-campeão brasileiro do Red Bull Thre3Style (2010, 2011, 2012) e três vezes finalistas da etapa mundial nesse mesmo período ficando duas vezes em segundo lugar e uma em terceiro. Hoje ele simplesmente é jurado desse campeonato, após várias vezes no pódio, nada mais justo.

Um dos que eu curto bastante, também é o finalista mundial de 2013, talvez seja um dos sucessores do Nedu, no vídeo abaixo você confere a performance do DJ Marquinho Espinosa, ele mescla tudo que você imaginar, incluindo EDM, acredite.

E por falar em EDM, um dos poucos produtores que mantém essa cultura viva nos festivais de música eletrônica é o já citado A-Trak, o primeiro a vencer todos os maiores campeonatos de DJs do mundo e o mais novo, também, com apenas 15 anos na época. Hoje aos 32 anos muita gente não sabe do seu passado e talvez só o conheça pelas suas tracks famosas como seu remix de “Heads Will Roll”, usado na trilha sonora de Project X.

Vocês perceberam quanto assunto surgiu desde o início dessa história? Acredite, ser penta campeão mundial foi apenas o começo de A-trak, mas isso é assunto para outro artigo!

Vou deixar vocês com mais um pouco de turntablism (set de 2016).

* Com informações de (DJ) Cauê M. Ausec. Publicado originalmente por Paulo Cani em 16/09/2014 e atualizado em 2018.